Foto: Tácio Melo
Com o objetivo de compartilhar conhecimentos sobre a medicina indígena entre pajés da região metropolitana de Manaus, a indígena e pajé A-yá Kukamíria, do povo Kokama, deu início ao projeto “Saberes Ancestrais”. O encontro foi realizado nos dias 7 e 8 de junho, na Aldeia Inhaã-bé, localizada no lago do Tarumã-açu, em Manaus.
Em formato de workshop, o projeto inclui receitas, cantos, preparos de banhos, chás e rezas, que serão posteriormente compartilhados nos territórios indígenas dos pajés participantes, visando fortalecer ainda mais os saberes medicinais.
A iniciativa surgiu com a pajé A-yá Kukamíria, que obteve apoio através do edital “Povo Indígena”, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, por meio da Política Nacional de Fomento à Cultura (PNAB), vinculada à Lei Aldir Blanc.
Participam do projeto os pajés Dyakuru, do povo Tuyuka, que compartilhou seu conhecimento sobre o rapé; Dyakapiró, do povo Dessana, com o chá de Ayahuasca; Cleide Mainuma, do povo Kokama, com chás da medicina indígena; e A-yá Kukamíria, com banhos de ervas para limpeza e purificação.
Além das receitas, os pajés realizaram rezas e cantos de suas culturas, mesclando medicina e música durante toda a oficina.
Para A-yá, o projeto surgiu do desejo de reunir “pajés” de diferentes territórios indígenas para compartilhar saberes e experiências na medicina natural. Para ela, a iniciativa é de grande importância para a retomada desses conhecimentos, de modo a valorizar e preservar as tradições dos povos originários.
“Esse é mais do que um encontro, é resistência ancestral em sua mais profunda essência. Aqui temos várias gerações de indígenas, que são curandeiras e pajés, e estamos fazendo essa troca de saberes para revitalizar nossa cultura com a medicina tradicional, que continua curando até hoje. “Saberes Ancestrais” é uma união de povos e de famílias, um projeto para nos fazer sentir ‘vivos’ para continuarmos exercendo nossa função de curandeiros, com os produtos naturais da floresta, como sempre fizeram nossos ancestrais”, pontuou A-yá.
Diante de desafios como a desvalorização cultural, o projeto tem sido fundamental para dar voz e espaço a saberes medicinais pouco discutidos na atualidade. A medicina tradicional indígena vem resistindo ao tempo e está presente em diversas regiões do Amazonas, incluindo vilas ribeirinhas, territórios indígenas e centros urbanos, como Manaus, onde ainda é possível encontrar feiras com ervas, chás e banhos, revelando que a região continua cultivando a medicina ancestral para processos de cura e tratamentos de saúde humana e animal.
A pajé Cleide Mainuma, que também participa do projeto, levou ervas para diversos tratamentos, entre elas, a receita do chá de embaúba, que funciona como anti-inflamatório natural, eficaz para tratamentos cardiovasculares, asma e outros problemas respiratórios.
“Os nossos remédios estão na nossa floresta e temos muitas ervas, sementes, frutos e raízes que precisam ser cultivados para auxiliar no processo medicinal. Com a chegada da Covid e outros problemas respiratórios, precisamos ensinar e compartilhar nossos conhecimentos para levar o bem ao nosso povo e a todos”, completou Mainuma.
Por meio da liderança de A-yá Kukamíria, o projeto “Saberes Ancestrais” deve continuar em outros territórios indígenas e também nos centros urbanos, por meio de incentivos culturais. “A ideia é expandir o projeto para outras regiões do Amazonas, compartilhando experiências e conhecimentos adquiridos com outros povos indígenas. Isso será fundamental não apenas para o nosso aprendizado, mas também para levar a medicina tradicional cada vez mais longe e para o maior número de pessoas”, destacou.